Grandos na Idade Média
A Idade Média é o período pelo qual ficou conhecida a História desde a queda do Império Romano do Ocidente (476 d.C) até a queda do Império Romano do Oriente (1453 d.C).
E como era a região da Família Grando durante esse período ?
Sempre lembrando que a região de origem e maior concentração do sobrenome Grando é a região dos Estados de Veneto e Friulia Venezia Giulia no nordeste da Itália atual conforme o mapa abaixo ( últimos 2 estados verdes à direita)
No século V d.C o Império Romano entrou em decadência e vários povos vindos da Europa Central e Ásia Central passaram a invadir a península itálica.
Principalmente de origem germânica ( vieram os ostrogodos, visigodos, lombardos e até os hunos do potente e famoso rei Átila.)
Somente a região litorânea contornando o Mar Adriático ( Veneza e Aquiléia) sobreviveu a esta invasão permanecendo nas mãos dos Império Romano do Oriente com capital em Constantinopla.
Os povos invasores dividiram o norte da Itália durante os anos de 500 a 900 d.C em vários ducados e marcas. As duas palavras se referiam a um território com certa independência, dirigido por um nobre. Os donos de um ducado eram chamados de duques, os que dirigiam uma marca eram chamados de marqueses e os que dirigiam um feudo menor eram conhecidos como condes ( por dirigir um condado).
Na teoria os duques tinham mais poderes que os marqueses, e estes mais poderes que os condes. Mas como veremos, na prática, pouca coisa mudava. Cada nobre era responsável pelo seu feudo, onde geralmente construía uma muralha ao redor para proteger a região e um castelo para abrigar a família.
Foto: Região toda protegida por muralhas em Conegliano no atual estado de Treviso. Pertenceu a uma sucessão de nobres: da Collalto, Dalla Scala, Da Carrara.
Foto: Parte da cidade murada era um castelo, também fortificado onde viviam os nobres detentores do feudo de Conegliano.
Foto: Região toda murada que abrigava o feudo de Pordenone, às margens do rio Noncello.
Após um breve período brigas entre os vários povos germânicos, quem definitivamente ocupou e dividiu a região foram os Lombardos.
O reino Lombardo foi dividido em Reino Maior ( ao norte) e Reino Menor ao sul. No mapa abaixo esta dominação é mostrada em cinza, sendo a cor laranja os estados ainda pertencentes ao Papado e ao Império Bizantino.
Lombardos ficaram no comando dos estados do norte da Itália dos anos 600 aos anos 800 d.C. Nesta época somente os nobres usavam sobrenomes, e estes representavam o nome do feudo ou local que dominavam. Então tínhamos os Di Bavari ( que dominavam a região da Bavária), ou Di Verona ( que dominavam a marca di Verona), os Della Torre ( que dominavam estas regiões que ficavam na atual região metropolitana de Milão ( Lombardia Maior), os Spoletto e Benevento ( que dominavam os ducados da Lombardia Menor) entre outros menores.
Com a invasão de Carlos Magno da França na segunda metade dos anos 800, os lombardos foram aos poucos sendo expulsos e novas marcas e ducados foram sendo criados. Com a morte de Carlos Magno, seu reino foi dividido em 3 partes.
Foto: A parte ocidental ( atual França), a parte central ( atual Alemanha, Suíça) e a parte oriental ( Polônia, Áustria, Hungria).
E 2 delas no final dos anos 900 entraram de vez no norte italiano e fundaram junto com o papado o famoso: Sacro Império que dominou a maior parte da Itália de 956 a 1806 d.C ( só ficou de fora a parte do reino que viria a ser a futura França).
Segue mapa da divisão do Sacro Império.
E com isso novos sobrenomes foram criados nos anos de 1000 a 1200 d.C. Sempre usando como sobrenomes os feudos que cada nobre possuía. Então vieram os di Cápua, Di Amalfi, Di Salerno, Di Benevento, Di Spoleto, di Toscana, da Romano, di Carinzia, para as regiões maiores. Para os pequenos feudos no norte italiano, apareceram os Da Collalto, Da Camino, Da Carrara, Da Ferrara, da Marchese, Della Torre ( região de Milão), Della Scalla ( região de Verona), Visconti ( região de Milão após os Della Torre), Della Volta ( que ocupavam o feudo de Pordenone em Friuli Giulia), di Bessano, Di Maróstica, di Gorizia, del Grappa, Di Mântua, Di Bentivoglio, Di Forli, Di Faenza, Di Pesaro, Di Rimini, Di Camerino, Di Piombino.
Em alguns casos, os herdeiros dos feudos, além de receberem a numeração de origem ( Enrico I, Enrico II, Enrico III), e o sobrenome da localidade, passaram também a receberem um apelido no fim do sobrenome. Então surgiram:
Carlos I o Magno, Carlos II o Calvo, Luis I o Piedoso, Grimoaldo I o Velho, Pepino III o Breve, Landolfo di Benevento o Ruivo, Pandolfo di Salerno o Cabeça de Ferro,
Porém os apelidos não eram transmitidos aos seus descendentes somente a numeração correspondente do governo e a localidade do feudo.
No início do século XI ( como o Sacro Império era dirigido pelos imperadores com o papado) várias marcas passaram para o domínio do clero e bispado que passaram a ser seus governantes. Assim a marca di Verona deu origem a Marca di Friuli que depois recebeu o nome de Patriarcado do Aquiléia. A região sul do Ducado de Tyrrol, recebeu o nome de Principato Eclesiástico di Trento. Estas regiões dominadas e administradas pelo clero eram governados pelos bispos indicados pelo imperador ou pelo papa.
Foto: Mapa Italiano do século XII d.C
E se olharmos os nomes dos governantes do patriarcado di Aquiléia dos anos de 1100 a 1300 vemos que os sobrenomes continuavam representando os locais dos quais vinham os governantes.
São exemplos: Sigeardo di Beilstein ( 1068 d.C), Egilberto di Bamberga ( 1129 d.C), Gregório di Montelongo ( 1251 d.C), Cassono della Torre ( 1317).
No século XII e século XIII d.C surge a Marca Trevigiana que abrigava as regiões de Belluno, Pádua, Treviso, até Pordenone.
A mais antiga definição dos limites da Marca Trevigiana data do século XII d.C e é citada no livro chamado: Dante e il grande mito universale della Marca. Il mistero di una denominazione che non si è mai saputo d'onde venga, Treviso, Edizioni G.M.F., 2004, de Gian Maria Ferretto, ele descreve assim os limites da Marca Trevigiana do século XII d.C:
Na íntegra, e em linguagem italiana está assim descrito seus limites:
“Monti, Musoni, Ponto Dominorque Naoni” che significa: dai monti del bellunese alle lagune venete e dal fiume Musone, che scorre ad occidente nei pressi di Castelfranco, fino al fiume Noncello che bagna Pordenone”.
Está região ficou dos anos 1100 até 1300 d.C nas mãos das famílias “ Da Carrara” ( dominavam a região de Pádua, suldoeste de Treviso), os “De Collalto” ( dominavam a região entre o rio Piave e a cidade de Treviso) e os “Da Camino” ( que dominavam a região entre Oderzo e Belluno, passando por Ceneda, hoje chamada de Vittorio Veneto). As famílias Da Collalto e Da Camino acabaram as vezes se fundindo em casamentos entre os nobres.
Foto: Castelo de Roganzuolo nas proximidades de Vitório Veneto. Era a residência da nobreza dos “Da Camino” ( Hoje é uma Igreja).
Foto: Castelo de Sussegana na cidade do mesmo nome. Era a residência da nobreza dos “Da Collalto”.
Durante a segunda metade dos anos 1300 estas regiões foram aos poucos sendo dominadas pela República de Veneza.
Então se somente os nobres tinham sobrenomes registrados dos anos 1000 a 1400 d.C no norte da Itália, como eram chamados os “não nobres”?
São Francisco de Assis registra bem como eram chamado a maioria dos camponeses. O jovem nascido na cidade italiana de Assis no ano de 1182 d.C era chamado de “ Giovanni di Pietro di Bernardone”. Ou seja, os camponeses eram chamados pelo nome, indicando em seguida o nome de seu pai e depois o nome de seu avô. Podiam eventualmente ser conhecidos pelos seus apelidos.
Como a “imprensa” foi inventada somente no ano de 1439 pelo alemão Johannes Gutemberg e os livros eclesiásticos nos anos de 1563 quase a totalidade dos cidadãos comuns antes dos anos de 1400 não tinha o seu nome registrado de forma escrita, eram apenas “falados”.
No Concílio de Trento realizado entre os anos de 1545 e 1563 na região italiana de Trento, a igreja católica decidiu começar a cadastrar todo mundo que nascia, casava ou morria em livros. Na sessão XXIV do Concílio foram instituídos os cadastros paroquiais obrigatórios. Nasciam assim os livros eclesiásticos.
Uma das preocupações era evitar casamentos consangüíneos uma vez que os nomes próprios eram poucos e extremente comuns em cada região. Com isso todos os cidadãos passaram a ter seus sobrenomes transmitidos aos seus descendentes.
Portanto, nascia assim para todas as regiões que seguiam o Papado, o registro oficial dos sobrenomes pela Igreja Católica. E o registro paroquial nasceu com regras: língua oficial precisava ser o latim e era preciso escrever o nome de quem nascia, seu pai e seu avô, de que paróquia pertencia, quem eram as testemunhas ou padrinhos e quem era o responsável eclesiástico.
Porém as regras foram aos poucos caindo. Em menos de 100 anos as normas já passaram a ser flexibilizadas, em cada região em um momento diferente. Os registros foram aos poucos sendo escritos nas diferentes línguas faladas em cada uma das dioceses européias. E como tudo era escrito “ a mão”, aos poucos os sobrenomes foram sendo mudados, pelo simples fato de que quem registrava um casamento, muitas vezes não entendia detalhes da letra escrita pelo pároco que batizou.